O insustentável peso de ser jovem cristão
Dois jovens jornalistas cristãos, Ana Isabel Albuquerque e Igor Costa, estudantes na UBI, Universidade da Beira Interior, a quem o DPJG lançou o convite de olhar, através do Dia Diocesano da Juventude, a própria juventude e pastoral juvenil da diocese da Guarda, aceitaram o desafio e concretizaram uma grande e vasta reportagem que, na profundidade, vai para além do óbvio e identifica as necessidades urgentes de se repensar o papel da Igreja face ao Jovem Cristão. Aqui vai a reportagem:
____________________________
“Sejam mais na cidade da Covilhã, e manifestem-se enquanto cristão pelas ruas por onde passarem”, desafiava o padre Jorge Castela. O cónego José Geraldes, arcipreste da cidade neve, lançou o mesmo apelo, com outras palavras: “Quando os jovens arrefecem, o resto do mundo bate os dentes”. Então, a Covilhã aqueceu. Animação, diversidade e irreverência juntaram-se ao espírito de jovem cristão: ir ao encontro do outro.
Por Ana Isabel Albuquerque e Igor Costa
A fasquia era elevada. Nos documentos enviados para a comunicação social, o Departamento da Pastoral Juvenil da Diocese da Guarda (DPJG) fez questão de referir os milhares de jovens presentes nas edições dos dois últimos anos. As edições na Guarda e Trancoso encheram os covilhanenses de expectativas. Saíram goradas, as de muitos. “Não estão cá mil!”, ouvia-se entre os habitantes locais. “Nem oitocentos”, diziam outros que, ao longo do dia, se juntaram à festa. E com razão. Em momento algum houve mais de seis centenas de jovens no Pelourinho da Covilhã. Mal feitas estavam também as contas da própria Polícia de Segurança Pública (PSP). A verdade é que a enchente do ano passado não se repetiu. Mas os números iam-se aproximando à medida que os jovens se juntavam à festa durante todo o dia. A cidade da Guarda foi toda ela uma verdadeira cidade juvenil a descobrir pelos forasteiros. Aqui foi diferente. Foram “só uns seiscentos”, como se ouvia também, a pensar sobre algumas das problemáticas mais proeminentes em torno da juventude. Os seiscentos, redondamente significativos, foram suficientes para alastrar a alegria a toda a cidade. O convite era alargado, e a população compareceu.
Se tivermos em conta que a aposta do DPJG para este ano está voltada para a formação, tanto de jovens como, sobretudo, de animadores de grupos, os moldes adoptados parecem justificar-se. Este ano, a cidade neve, que é universitária, transformou-se num imenso laboratório de sociologia. Família, sexualidade, café, diferença, desencontros e caminho assumiram nome de atelier de reflexão, por onde todos se distribuíram. Sem tabus, ouviram-se questões e respostas, experiências e anseios. O debate tinha uma direcção clara, visível nas tarjas colocadas nos locais. Perguntava-se: “Como podem hoje os jovens «ser mais» em cada um daqueles espaços?”. Era unânime a certeza de que lhes é difícil assumirem as suas crenças.
A Covilhã demonstrou-o de uma forma acutilante. Na sua terra, foram poucos os jovens a assumirem a sua fé. Foi preciosa a ajuda dos que compareceram. Mas esperava-se mais. Bem mais. O dilema coloca-se entre os grupos de amigos, e para Mário Pereira, docente na Universidade da Beira Interior (UBI), esta realidade é evidente. É difícil “dar a cara quando somos cristão, e assumi-lo. A grande parte dos nossos jovens até são cristãos, participam nas suas paróquias activamente, mas aqui têm receio de serem postos em causa e de serem apontados a dedo”.
Para o docente, os jovens tendem a procurar algo diferente daquilo que são as propostas actuais, preferindo actividades que lhes toquem no interior. A juventude entrou num processo em que está a “retornar às suas origens”, a fim de fazer algo produtivo em favor da sociedade. É desta forma que Mário Pereira vê os estudantes da UBI. “Eu sou optimista por defeito, mas apesar de parecer que os nossos universitários estão um pouco distanciados, eles retornam ao seu caminho se alguém os chamar. São jovens voluntariosos, que têm algumas carências afectivas. São filhos da gente que fez a revolução em que grande parte dos valores foi destruída, e o cristianismo foi posto em causa. Agora são os mais novos que estão a sofrer com esta sociedade”. Mesmo assim, muitos jovens da Covilhã participaram e, mais uma vez sem complexos, gritaram com outros: “Aqui está Jesus!”.
Ajuda preciosa, a deles. Não só na vivência da festa, potenciada pelos muitos quilowatts de luz e som sobre o palco do pelourinho. Há vários meses que os grupos da cidade trabalham com afinco em torno deste dia. No DPJG as coisas começaram ainda mais cedo. Desde Outubro que se fala no passado sábado. O mês de Janeiro fez chover ideias dos grupos que se foram juntando. Outros juntaram-se nos ensaios para a Eucaristia, que decorreram durante todo o último mês. Diferentes estatutos, idades, estaturas e profissões reuniram-se à volta das mesmas guitarras. A dedicação de meses ao trabalho prático encontrou paralelo na profundidade dos temas discutidos no dia. “Este dia da juventude na Covilhã é uma diferença para apontar caminhos nobres de excelência à sociedade”, exalta o bispo diocesano. Na humildade buscou-se a perfeição, e a montanha pariu a festa, que começou em quatro pontos da cidade, com os covilhanenses a receber os peregrinos.
“O ponto alto, mas não o mais importante”
A expressão parece paradoxal, mas é assim que o padre Jorge Castela apresenta o dia diocesano da juventude, no conjunto das actividades calendarizadas pelo DPJG. “É o ponto alto da evangelização de todo o ano, é a ocasião em que os jovens se juntam e se manifestam enquanto grupo. Mas não é, de facto, o mais importante. O mais importante é o que cada um faz no seu percurso pessoal e em grupo, mas juntar esta malta toda é importante para nós departamento”, explica o sacerdote. O facto de ser o momento mais expressivo do ano pastoral acarreta com isso o desdobramento de preocupações logísticas. É necessário mobilizar muitas pessoas, incontáveis horas de reuniões semanais com todas elas, sempre com vista à evangelização dos jovens da diocese.
A actividade de dia 21 de Abril, na Covilhã, contou com o apoio dos padres da cidade e da Câmara Municipal, “excelente em todos os momentos da preparação”, atesta o responsável pelo DPJG. A festa teve início pela manhã em quatro espaços de acolhimento distintos. No jardim público, na garagem de S. João, no Calvário e junto ao pólo central da UBI, grupos de jovens da cidade acolheram os forasteiros. O ponto de encontro foi o Pelourinho, onde todos se juntaram e foram recebidos pela autarquia. “A Covilhã tem sempre muita vida, mas é claro que esta actividade traz uma cor especial à cidade”, refere Carlos Pinto, presidente da edilidade. Por isso, o autarca acrescenta que “a Câmara Municipal da Covilhã associa-se com muito gosto a um dia de festa”.
O momento mais importante do dia foi mesmo a Eucaristia, celebrada na Igreja de Santa Maria. Os jovens encheram o templo por completo, e tiveram a oportunidade de ouvir de D. Manuel Felício, bispo da Guarda, palavras de coragem e desafio. Segundo o prelado, “Deus dá a cada um capacidades e missões específicas”, tendo em conta a necessidade de “descoberta da vocação e a coragem com que se agarra, até às últimas consequências”. Para o pastor diocesano, “no centro da nossa vida tem de estar o Cristo vivo, ressuscitado. A nossa vida será vivida com qualidade na medida em que tivermos a coragem de a entregar como Cristo a entregou”. O bispo alertou os jovens para a oposição que se faz, “hoje mais do que nunca, ao projecto de vida que segue Cristo”. Mas não deixou de apresentar Jesus como “luz e sal” de um mundo em que “os jovens são a Primavera da Igreja”.
No final da cerimónia foi anunciado que o Projecto de Trabalho Alargado com Jovens (TAJ) partirá para o terreno já nas próximas semanas. O momento é o culminar de três anos de trabalho, em que cerca de 15 jovens da diocese fizeram formação. Com este anúncio, os novos missionários irão a várias paróquias a fim de animar ou fomentar novos grupos juvenis cristãos. Ocasião especial foi também para o agrupamento diocesano do Corpo Nacional de Escutas (CNE). Desde 1917 na diocese da Guarda, os escuteiros são hoje o movimento católico que mais jovens dinamiza. Pela longevidade e pelo trabalho, a homenagem sentida encontrou um comovido “obrigado” do responsável pelo grupo.
A tarde foi o período de reflexão e convívio, em que diversos grupos de jovens apresentaram músicas e variedades. O encerramento coube à Banda Jota que, com temas de música religiosa jovem, animou todos os que se encontravam na Praça do Município. No arrumar de toda a logística mobilizada, o padre Jorge Castela fazia “um balanço positivo. Foi muito bom sentir toda esta juventude a manifestar-se. Vivemos numa sociedade em que tanto se diz que se está a perder a fé e a religião, e que os jovens estão perdidos. Ter ocasiões destas em que se manifesta precisamente o contrário é, só por isso, bastante positivo”.
Ser (mais) diferente
A discussão em torno de “ser mais” acabou por pautar o dia. Uma temática que surge no seguimento dos últimos trabalhos do DPJG. “Os novos laboratórios abarcavam mais a sensibilidade dos jovens. Este ano quisemos apostar naquilo que é o interior de cada um, ser mais gente, ser mais Homem, ser mais cristão, ser mais com os outros. No fundo uma valorização muito grande de cada um”, esclarece o padre Jorge Castela, responsável pelo departamento. Para D. Manuel Felício, o assunto merece a preocupação de todos, a fim de valorizar uma vida de qualidade: “Hoje vivemos numa cultura que, em virtude de cultivar a facilidade, vai orientando a vida das pessoas por plataformas de mediocridade, e nós temos de encontrar alternativas”.
Café e sexualidade pareciam os temas mais convidativos. Parecia também que seriam os ateliers mais concorridos, mas a tendência não se confirmou, e os espaços equilibraram-se. Ainda assim, eram os temas mais apelativos. Nos ateliers e na vida. Eduardo Cavaco, docente da UBI, orientou o segundo, e foi sem preconceitos ao cerne das dúvidas dos jovens e de alguns dos temas quentes que relacionam Igreja e sexo. “Falámos muito sobre o amor, sobre a maneira como a Igreja vê temas como a homossexualidade, o uso do preservativo e o celibato, e foi muito gratificante”, ouvia-se no final.
O primeiro dos temas, cujo debate decorreu no coração da cidade, camuflou-se para falar de relações, convívios e vícios. Isto no seguimento do trabalho do DPJG, que já no ano passado se imiscuíra nos “novos laboratórios da fé”. O objectivo mantém-se: ir ao encontro dos jovens nos locais que eles escolhem em detrimento da Igreja, nos seus tempos livres. No final do atelier, concluía-se que a opção pelas actividades de lazer não deve ser aleatória, devendo contribuir para a construção de cada um. Por isso, muitos sentiam-se enriquecidos por poderem aplicar as “influências de se ser cristão nos momentos de diversão”. Para D. Manuel Felício, há “uma certa corrente de jogo que vai estimulando o negócio do lazer. Isto em benefício dos cofres de instituições que se aproveitam de muitos jovens que, de uma forma incauta, vão levando o seu tempo de forma menos pensada”.
A diferença, que se pediu a todos os jovens, ficou vincada num atelier sensível, mas que não esqueceu o voluntariado e o trabalho social. Nas opiniões trocadas era manifesto o sentimento de autismo em relação ao que se passa à volta de cada um. Um autismo que impede as pessoas de se aproximarem de quem, por vezes, está tão perto. “Temos de ser mais a diferença, tentar perceber o que se passa com eles [os marginalizados], quais são as preocupações deles. Porque não são diferentes, muito pelo contrário: todos temos limitações, mas uns mais que outros”, reforçou Sandra Olival. Nesta linha, um outro atelier andou em torno dos encontros e desencontros nas relações com os outros. Para além disso, os participantes preocuparam-se com a forma como se pode “envolver Cristo no meio destes encontros e desencontros e no facto de nós nos encontrarmos com Cristo”.
Para os que pretendiam falar deste encontro em concreto, a capela de S. Martinho, no interior da UBI, recebeu o atelier do caminho, sempre com os olhos na meta. Para isso, todos foram largando, ao longo do percurso, alguns defeitos e obstáculos que os impediam de prosseguir como desejavam. A aposta vocacional é uma realidade constante para o DPJG: “Todos os anos achamos que, nos encontros maiores que realizamos como o dia diocesano da juventude, é importante ter um espaço vocacional.”
Ali ao lado, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, meditou-se sobre um dos caminhos vocacionais mais seguidos, mas que nem por isso ficou de lado. Mário Pereira e a esposa falaram das implicações da família e do relacionamento entre pais e filhos, tendo em conta a forma como a família é vista pelas diferentes idades. Segundo o docente da UBI, foi evidente a ânsia por uma família cada vez melhor: “O que eles partilharam, e foi uma partilha muito boa, foi que sentem a sua casa como uma âncora. Como um local onde eles podem, nos momentos de dificuldade, regressar. Onde encontram alguém que os ajuda, que os apoia, que os auxilia. A família é na verdade a sua cela de origem, onde eles se sentem seguros”.
Arciprestados distantes: missão possível
Descentralizar actividades e ir aos locais mais remotos são os passos que o Departamento da Pastoral Juvenil da Diocese da Guarda pretende dar, a fim de levar para a vida pastoral diocesana os que ainda não se aproximaram. “Por isso é que organizámos o projecto TAJ. Temos três equipas formadas que pretendemos enviar para o terreno, para essas zonas que não têm tido tantas oportunidades de se encontrar com Jesus nesta perspectiva mais jovem, mais dinâmica, e esperamos que se consiga”, aponta o padre Jorge Castela. Mesmo ciente do afastamento de alguns arciprestados, o sacerdote realça com alegria a presença inédita de Figueira de Castelo Rodrigo no dia diocesano da juventude.
“É uma sensibilidade que temos de generalizar a todos os agentes da pastoral. Eu tenho a primeira responsabilidade, e comigo todos os párocos, os catequistas, os ministros extraordinários da comunhão, e outros”, reconhece D. Manuel Felício. Sem individualizar culpas, o bispo da diocese ambiciona chegar para além da hierarquia arciprestal e traça desde logo objectivos: “Só estarei contente quando cada paróquia tiver uma proposta concreta de pastoral juvenil. Eu próprio, neste dia diocesano da juventude, me deixei motivar para que tenhamos programas que vão a cada paróquia”.
O responsável do DPJG concorda que esta missão “não depende apenas do departamento, embora nós também assumamos alguma culpa. É preciso ir mais a essas zonas, mas às vezes há contingências de pessoal, logística ou falta de vontade. Depende muito das pessoas que estão no terreno, das pessoas que estão a trabalhar, dos padres e dos animadores que possam existir.” Ainda assim, o padre Jorge Castela encontra um outro argumento, de ordem demográfica, que faz crescer alguma apatia relativamente à pastoral juvenil: “Temos de pensar estes arciprestados, que são apenas dois ou três, como arciprestados que não têm muita juventude”.
“Cidadãos de um mundo novo”
A música é cantada em missas e encontros religiosos juvenis há bastantes anos, mas o seu teor não deixa de ser verdadeiro. No palco do dia diocesano da juventude, foi o projecto “A Barca”, da Caritas da Guarda, quem a fez ouvir. São jovens diferentes, com deficiências físicas, mentais ou outras dificuldades, mas que agarram a vida com mais força ainda, e se afirmam como cristãos. Todavia, a coragem não chega a todos. “Há muitas adversidades, mais do que há uns anos atrás. Hoje em dia é mais difícil: há novas formas de entender a fé e Deus. Ao mesmo tempo, os jovens estão cada vez mais ocupados ou, possivelmente, desocupados. Estão cada vez mais cheios de muita coisa e vazios de tudo, nessa perspectiva”, atira o padre Jorge Castela.
O sacerdote, de 35 anos, critica os jovens com o mesmo carinho com que trabalha para eles. Por isso, o jovem padre não esquece o lugar que os mais novos e os cristãos em geral ocupam no mundo: “Um cristão tem de viver no mundo. Para além de viver dentro dessas quatro paredes a que chamamos igreja, tem também de viver fora delas, porque a verdadeira Igreja são as pessoas, não são as paredes, e é preciso que se viva Igreja no mundo”. Nesta vivência, o padre Jorge Castela valoriza a maturidade da fé, “que influencia de dentro as pessoas a agir segundo os valores do evangelho”.
A ausência de um número significativo de jovens universitários no dia diocesano da juventude não passou despercebida a D. Manuel Felício que, ainda assim, é cauteloso: “Temos de julgar estas situações não apenas com critérios racionais, mas também com critérios emocionais. Só chegamos aos jovens conciliando uma racionalidade sã com um apelo aos sentimentos”. “Ainda não encontrámos as linguagens para levarmos a mensagem ao lugar certo”, lamenta o prelado. Esta aproximação tem em vista o ponto em que D. Manuel Felício tem vindo a insistir, pois “uma vida profissional tecnicamente bem preparada exige também uma vida de valores”.
“O caminho da proximidade a cada um dos jovens, o caminho do diálogo com cada um, o caminho do acolhimento, o dispormos de condições para responder a problemas concretos” são as formas que o prelado realça para ir ao encontro desta faixa etária. O padre Jorge Castela identifica a necessidade de preparar os grupos através de itinerários de fé, a fim de traçar um percurso sólido. “Sabemos da inconstância dos jovens. Mesmo nesta zona do Interior, os jovens emigram muito por causa dos estudos e acabam por quebrar os ritmos que têm nas suas paróquias”, avença o sacerdote.
Para o bispo da Guarda, a formação num estilo de vida próximo das propostas de Jesus é a pedra de toque “para que se possa segui-Lo e amá-Lo”. D. Manuel Felício encontra na sociedade civil e nos meios de comunicação social forças que, em diversas circunstâncias, “estão empenhadas em nos tirar o tapete e às vezes até em transformar situações que são hipóteses remotas em dados certos quando não o são”. No próximo ano, o responsável pela pastoral juvenil diocesana apostará em “dar mais”. “Começámos por uma tarefa de sensibilização, agora a formação e no próximo ano é mesmo o compromisso”, garante o padre Jorge Castela. Tendo em conta estes dados, o prelado diocesano convida os cristãos a organizarem-se no seu espaço “para que sejamos uma diferença no palco da sociedade que precisa bem dela”. Nos jovens cristãos vê “a diferença que a sociedade precisa para o futuro, e eu estou empenhado em que os nossos jovens cristãos assumam o papel que lhes compete, que é insubstituível”.
Os inquéritos que o próprio DPJG elaborou revelam dados contraditórios. A falta de coragem para firmar compromissos é assumida pelos próprios jovens. Ainda assim, dizem ter uma relação muito boa com Deus. Mas a Igreja e os seus padres são irredutíveis. O divino exige entrega, e não se presta a relações oportunas, em que as preocupações momentâneas encontram resposta em preces circunstanciais. Mais contraditório parecerá o facto de se qualificarem a si mesmos no meio de uma qualquer tabela avaliativa. Dizem situar as suas preferências no gozar a vida e na diversão. A Igreja tem-se aberto, e tem criado espaços de dinamismo para acolher os jovens mais afastados. Este desejo é, localmente, assumido pelo bispo diocesano e pelo responsável pela pastoral juvenil. Ainda assim, até que ponto a vontade dos religiosos será suficiente para cativar quem se revela pouco receptivo aos valores da solidariedade e da família? Até que ponto conseguirá a Igreja acolher estes cidadãos de um mundo novo, quais filhos pródigos, mas tão cheios de contradições?
A fasquia era elevada. Nos documentos enviados para a comunicação social, o Departamento da Pastoral Juvenil da Diocese da Guarda (DPJG) fez questão de referir os milhares de jovens presentes nas edições dos dois últimos anos. As edições na Guarda e Trancoso encheram os covilhanenses de expectativas. Saíram goradas, as de muitos. “Não estão cá mil!”, ouvia-se entre os habitantes locais. “Nem oitocentos”, diziam outros que, ao longo do dia, se juntaram à festa. E com razão. Em momento algum houve mais de seis centenas de jovens no Pelourinho da Covilhã. Mal feitas estavam também as contas da própria Polícia de Segurança Pública (PSP). A verdade é que a enchente do ano passado não se repetiu. Mas os números iam-se aproximando à medida que os jovens se juntavam à festa durante todo o dia. A cidade da Guarda foi toda ela uma verdadeira cidade juvenil a descobrir pelos forasteiros. Aqui foi diferente. Foram “só uns seiscentos”, como se ouvia também, a pensar sobre algumas das problemáticas mais proeminentes em torno da juventude. Os seiscentos, redondamente significativos, foram suficientes para alastrar a alegria a toda a cidade. O convite era alargado, e a população compareceu.
Se tivermos em conta que a aposta do DPJG para este ano está voltada para a formação, tanto de jovens como, sobretudo, de animadores de grupos, os moldes adoptados parecem justificar-se. Este ano, a cidade neve, que é universitária, transformou-se num imenso laboratório de sociologia. Família, sexualidade, café, diferença, desencontros e caminho assumiram nome de atelier de reflexão, por onde todos se distribuíram. Sem tabus, ouviram-se questões e respostas, experiências e anseios. O debate tinha uma direcção clara, visível nas tarjas colocadas nos locais. Perguntava-se: “Como podem hoje os jovens «ser mais» em cada um daqueles espaços?”. Era unânime a certeza de que lhes é difícil assumirem as suas crenças.
A Covilhã demonstrou-o de uma forma acutilante. Na sua terra, foram poucos os jovens a assumirem a sua fé. Foi preciosa a ajuda dos que compareceram. Mas esperava-se mais. Bem mais. O dilema coloca-se entre os grupos de amigos, e para Mário Pereira, docente na Universidade da Beira Interior (UBI), esta realidade é evidente. É difícil “dar a cara quando somos cristão, e assumi-lo. A grande parte dos nossos jovens até são cristãos, participam nas suas paróquias activamente, mas aqui têm receio de serem postos em causa e de serem apontados a dedo”.
Para o docente, os jovens tendem a procurar algo diferente daquilo que são as propostas actuais, preferindo actividades que lhes toquem no interior. A juventude entrou num processo em que está a “retornar às suas origens”, a fim de fazer algo produtivo em favor da sociedade. É desta forma que Mário Pereira vê os estudantes da UBI. “Eu sou optimista por defeito, mas apesar de parecer que os nossos universitários estão um pouco distanciados, eles retornam ao seu caminho se alguém os chamar. São jovens voluntariosos, que têm algumas carências afectivas. São filhos da gente que fez a revolução em que grande parte dos valores foi destruída, e o cristianismo foi posto em causa. Agora são os mais novos que estão a sofrer com esta sociedade”. Mesmo assim, muitos jovens da Covilhã participaram e, mais uma vez sem complexos, gritaram com outros: “Aqui está Jesus!”.
Ajuda preciosa, a deles. Não só na vivência da festa, potenciada pelos muitos quilowatts de luz e som sobre o palco do pelourinho. Há vários meses que os grupos da cidade trabalham com afinco em torno deste dia. No DPJG as coisas começaram ainda mais cedo. Desde Outubro que se fala no passado sábado. O mês de Janeiro fez chover ideias dos grupos que se foram juntando. Outros juntaram-se nos ensaios para a Eucaristia, que decorreram durante todo o último mês. Diferentes estatutos, idades, estaturas e profissões reuniram-se à volta das mesmas guitarras. A dedicação de meses ao trabalho prático encontrou paralelo na profundidade dos temas discutidos no dia. “Este dia da juventude na Covilhã é uma diferença para apontar caminhos nobres de excelência à sociedade”, exalta o bispo diocesano. Na humildade buscou-se a perfeição, e a montanha pariu a festa, que começou em quatro pontos da cidade, com os covilhanenses a receber os peregrinos.
“O ponto alto, mas não o mais importante”
A expressão parece paradoxal, mas é assim que o padre Jorge Castela apresenta o dia diocesano da juventude, no conjunto das actividades calendarizadas pelo DPJG. “É o ponto alto da evangelização de todo o ano, é a ocasião em que os jovens se juntam e se manifestam enquanto grupo. Mas não é, de facto, o mais importante. O mais importante é o que cada um faz no seu percurso pessoal e em grupo, mas juntar esta malta toda é importante para nós departamento”, explica o sacerdote. O facto de ser o momento mais expressivo do ano pastoral acarreta com isso o desdobramento de preocupações logísticas. É necessário mobilizar muitas pessoas, incontáveis horas de reuniões semanais com todas elas, sempre com vista à evangelização dos jovens da diocese.
A actividade de dia 21 de Abril, na Covilhã, contou com o apoio dos padres da cidade e da Câmara Municipal, “excelente em todos os momentos da preparação”, atesta o responsável pelo DPJG. A festa teve início pela manhã em quatro espaços de acolhimento distintos. No jardim público, na garagem de S. João, no Calvário e junto ao pólo central da UBI, grupos de jovens da cidade acolheram os forasteiros. O ponto de encontro foi o Pelourinho, onde todos se juntaram e foram recebidos pela autarquia. “A Covilhã tem sempre muita vida, mas é claro que esta actividade traz uma cor especial à cidade”, refere Carlos Pinto, presidente da edilidade. Por isso, o autarca acrescenta que “a Câmara Municipal da Covilhã associa-se com muito gosto a um dia de festa”.
O momento mais importante do dia foi mesmo a Eucaristia, celebrada na Igreja de Santa Maria. Os jovens encheram o templo por completo, e tiveram a oportunidade de ouvir de D. Manuel Felício, bispo da Guarda, palavras de coragem e desafio. Segundo o prelado, “Deus dá a cada um capacidades e missões específicas”, tendo em conta a necessidade de “descoberta da vocação e a coragem com que se agarra, até às últimas consequências”. Para o pastor diocesano, “no centro da nossa vida tem de estar o Cristo vivo, ressuscitado. A nossa vida será vivida com qualidade na medida em que tivermos a coragem de a entregar como Cristo a entregou”. O bispo alertou os jovens para a oposição que se faz, “hoje mais do que nunca, ao projecto de vida que segue Cristo”. Mas não deixou de apresentar Jesus como “luz e sal” de um mundo em que “os jovens são a Primavera da Igreja”.
No final da cerimónia foi anunciado que o Projecto de Trabalho Alargado com Jovens (TAJ) partirá para o terreno já nas próximas semanas. O momento é o culminar de três anos de trabalho, em que cerca de 15 jovens da diocese fizeram formação. Com este anúncio, os novos missionários irão a várias paróquias a fim de animar ou fomentar novos grupos juvenis cristãos. Ocasião especial foi também para o agrupamento diocesano do Corpo Nacional de Escutas (CNE). Desde 1917 na diocese da Guarda, os escuteiros são hoje o movimento católico que mais jovens dinamiza. Pela longevidade e pelo trabalho, a homenagem sentida encontrou um comovido “obrigado” do responsável pelo grupo.
A tarde foi o período de reflexão e convívio, em que diversos grupos de jovens apresentaram músicas e variedades. O encerramento coube à Banda Jota que, com temas de música religiosa jovem, animou todos os que se encontravam na Praça do Município. No arrumar de toda a logística mobilizada, o padre Jorge Castela fazia “um balanço positivo. Foi muito bom sentir toda esta juventude a manifestar-se. Vivemos numa sociedade em que tanto se diz que se está a perder a fé e a religião, e que os jovens estão perdidos. Ter ocasiões destas em que se manifesta precisamente o contrário é, só por isso, bastante positivo”.
Ser (mais) diferente
A discussão em torno de “ser mais” acabou por pautar o dia. Uma temática que surge no seguimento dos últimos trabalhos do DPJG. “Os novos laboratórios abarcavam mais a sensibilidade dos jovens. Este ano quisemos apostar naquilo que é o interior de cada um, ser mais gente, ser mais Homem, ser mais cristão, ser mais com os outros. No fundo uma valorização muito grande de cada um”, esclarece o padre Jorge Castela, responsável pelo departamento. Para D. Manuel Felício, o assunto merece a preocupação de todos, a fim de valorizar uma vida de qualidade: “Hoje vivemos numa cultura que, em virtude de cultivar a facilidade, vai orientando a vida das pessoas por plataformas de mediocridade, e nós temos de encontrar alternativas”.
Café e sexualidade pareciam os temas mais convidativos. Parecia também que seriam os ateliers mais concorridos, mas a tendência não se confirmou, e os espaços equilibraram-se. Ainda assim, eram os temas mais apelativos. Nos ateliers e na vida. Eduardo Cavaco, docente da UBI, orientou o segundo, e foi sem preconceitos ao cerne das dúvidas dos jovens e de alguns dos temas quentes que relacionam Igreja e sexo. “Falámos muito sobre o amor, sobre a maneira como a Igreja vê temas como a homossexualidade, o uso do preservativo e o celibato, e foi muito gratificante”, ouvia-se no final.
O primeiro dos temas, cujo debate decorreu no coração da cidade, camuflou-se para falar de relações, convívios e vícios. Isto no seguimento do trabalho do DPJG, que já no ano passado se imiscuíra nos “novos laboratórios da fé”. O objectivo mantém-se: ir ao encontro dos jovens nos locais que eles escolhem em detrimento da Igreja, nos seus tempos livres. No final do atelier, concluía-se que a opção pelas actividades de lazer não deve ser aleatória, devendo contribuir para a construção de cada um. Por isso, muitos sentiam-se enriquecidos por poderem aplicar as “influências de se ser cristão nos momentos de diversão”. Para D. Manuel Felício, há “uma certa corrente de jogo que vai estimulando o negócio do lazer. Isto em benefício dos cofres de instituições que se aproveitam de muitos jovens que, de uma forma incauta, vão levando o seu tempo de forma menos pensada”.
A diferença, que se pediu a todos os jovens, ficou vincada num atelier sensível, mas que não esqueceu o voluntariado e o trabalho social. Nas opiniões trocadas era manifesto o sentimento de autismo em relação ao que se passa à volta de cada um. Um autismo que impede as pessoas de se aproximarem de quem, por vezes, está tão perto. “Temos de ser mais a diferença, tentar perceber o que se passa com eles [os marginalizados], quais são as preocupações deles. Porque não são diferentes, muito pelo contrário: todos temos limitações, mas uns mais que outros”, reforçou Sandra Olival. Nesta linha, um outro atelier andou em torno dos encontros e desencontros nas relações com os outros. Para além disso, os participantes preocuparam-se com a forma como se pode “envolver Cristo no meio destes encontros e desencontros e no facto de nós nos encontrarmos com Cristo”.
Para os que pretendiam falar deste encontro em concreto, a capela de S. Martinho, no interior da UBI, recebeu o atelier do caminho, sempre com os olhos na meta. Para isso, todos foram largando, ao longo do percurso, alguns defeitos e obstáculos que os impediam de prosseguir como desejavam. A aposta vocacional é uma realidade constante para o DPJG: “Todos os anos achamos que, nos encontros maiores que realizamos como o dia diocesano da juventude, é importante ter um espaço vocacional.”
Ali ao lado, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, meditou-se sobre um dos caminhos vocacionais mais seguidos, mas que nem por isso ficou de lado. Mário Pereira e a esposa falaram das implicações da família e do relacionamento entre pais e filhos, tendo em conta a forma como a família é vista pelas diferentes idades. Segundo o docente da UBI, foi evidente a ânsia por uma família cada vez melhor: “O que eles partilharam, e foi uma partilha muito boa, foi que sentem a sua casa como uma âncora. Como um local onde eles podem, nos momentos de dificuldade, regressar. Onde encontram alguém que os ajuda, que os apoia, que os auxilia. A família é na verdade a sua cela de origem, onde eles se sentem seguros”.
Arciprestados distantes: missão possível
Descentralizar actividades e ir aos locais mais remotos são os passos que o Departamento da Pastoral Juvenil da Diocese da Guarda pretende dar, a fim de levar para a vida pastoral diocesana os que ainda não se aproximaram. “Por isso é que organizámos o projecto TAJ. Temos três equipas formadas que pretendemos enviar para o terreno, para essas zonas que não têm tido tantas oportunidades de se encontrar com Jesus nesta perspectiva mais jovem, mais dinâmica, e esperamos que se consiga”, aponta o padre Jorge Castela. Mesmo ciente do afastamento de alguns arciprestados, o sacerdote realça com alegria a presença inédita de Figueira de Castelo Rodrigo no dia diocesano da juventude.
“É uma sensibilidade que temos de generalizar a todos os agentes da pastoral. Eu tenho a primeira responsabilidade, e comigo todos os párocos, os catequistas, os ministros extraordinários da comunhão, e outros”, reconhece D. Manuel Felício. Sem individualizar culpas, o bispo da diocese ambiciona chegar para além da hierarquia arciprestal e traça desde logo objectivos: “Só estarei contente quando cada paróquia tiver uma proposta concreta de pastoral juvenil. Eu próprio, neste dia diocesano da juventude, me deixei motivar para que tenhamos programas que vão a cada paróquia”.
O responsável do DPJG concorda que esta missão “não depende apenas do departamento, embora nós também assumamos alguma culpa. É preciso ir mais a essas zonas, mas às vezes há contingências de pessoal, logística ou falta de vontade. Depende muito das pessoas que estão no terreno, das pessoas que estão a trabalhar, dos padres e dos animadores que possam existir.” Ainda assim, o padre Jorge Castela encontra um outro argumento, de ordem demográfica, que faz crescer alguma apatia relativamente à pastoral juvenil: “Temos de pensar estes arciprestados, que são apenas dois ou três, como arciprestados que não têm muita juventude”.
“Cidadãos de um mundo novo”
A música é cantada em missas e encontros religiosos juvenis há bastantes anos, mas o seu teor não deixa de ser verdadeiro. No palco do dia diocesano da juventude, foi o projecto “A Barca”, da Caritas da Guarda, quem a fez ouvir. São jovens diferentes, com deficiências físicas, mentais ou outras dificuldades, mas que agarram a vida com mais força ainda, e se afirmam como cristãos. Todavia, a coragem não chega a todos. “Há muitas adversidades, mais do que há uns anos atrás. Hoje em dia é mais difícil: há novas formas de entender a fé e Deus. Ao mesmo tempo, os jovens estão cada vez mais ocupados ou, possivelmente, desocupados. Estão cada vez mais cheios de muita coisa e vazios de tudo, nessa perspectiva”, atira o padre Jorge Castela.
O sacerdote, de 35 anos, critica os jovens com o mesmo carinho com que trabalha para eles. Por isso, o jovem padre não esquece o lugar que os mais novos e os cristãos em geral ocupam no mundo: “Um cristão tem de viver no mundo. Para além de viver dentro dessas quatro paredes a que chamamos igreja, tem também de viver fora delas, porque a verdadeira Igreja são as pessoas, não são as paredes, e é preciso que se viva Igreja no mundo”. Nesta vivência, o padre Jorge Castela valoriza a maturidade da fé, “que influencia de dentro as pessoas a agir segundo os valores do evangelho”.
A ausência de um número significativo de jovens universitários no dia diocesano da juventude não passou despercebida a D. Manuel Felício que, ainda assim, é cauteloso: “Temos de julgar estas situações não apenas com critérios racionais, mas também com critérios emocionais. Só chegamos aos jovens conciliando uma racionalidade sã com um apelo aos sentimentos”. “Ainda não encontrámos as linguagens para levarmos a mensagem ao lugar certo”, lamenta o prelado. Esta aproximação tem em vista o ponto em que D. Manuel Felício tem vindo a insistir, pois “uma vida profissional tecnicamente bem preparada exige também uma vida de valores”.
“O caminho da proximidade a cada um dos jovens, o caminho do diálogo com cada um, o caminho do acolhimento, o dispormos de condições para responder a problemas concretos” são as formas que o prelado realça para ir ao encontro desta faixa etária. O padre Jorge Castela identifica a necessidade de preparar os grupos através de itinerários de fé, a fim de traçar um percurso sólido. “Sabemos da inconstância dos jovens. Mesmo nesta zona do Interior, os jovens emigram muito por causa dos estudos e acabam por quebrar os ritmos que têm nas suas paróquias”, avença o sacerdote.
Para o bispo da Guarda, a formação num estilo de vida próximo das propostas de Jesus é a pedra de toque “para que se possa segui-Lo e amá-Lo”. D. Manuel Felício encontra na sociedade civil e nos meios de comunicação social forças que, em diversas circunstâncias, “estão empenhadas em nos tirar o tapete e às vezes até em transformar situações que são hipóteses remotas em dados certos quando não o são”. No próximo ano, o responsável pela pastoral juvenil diocesana apostará em “dar mais”. “Começámos por uma tarefa de sensibilização, agora a formação e no próximo ano é mesmo o compromisso”, garante o padre Jorge Castela. Tendo em conta estes dados, o prelado diocesano convida os cristãos a organizarem-se no seu espaço “para que sejamos uma diferença no palco da sociedade que precisa bem dela”. Nos jovens cristãos vê “a diferença que a sociedade precisa para o futuro, e eu estou empenhado em que os nossos jovens cristãos assumam o papel que lhes compete, que é insubstituível”.
Os inquéritos que o próprio DPJG elaborou revelam dados contraditórios. A falta de coragem para firmar compromissos é assumida pelos próprios jovens. Ainda assim, dizem ter uma relação muito boa com Deus. Mas a Igreja e os seus padres são irredutíveis. O divino exige entrega, e não se presta a relações oportunas, em que as preocupações momentâneas encontram resposta em preces circunstanciais. Mais contraditório parecerá o facto de se qualificarem a si mesmos no meio de uma qualquer tabela avaliativa. Dizem situar as suas preferências no gozar a vida e na diversão. A Igreja tem-se aberto, e tem criado espaços de dinamismo para acolher os jovens mais afastados. Este desejo é, localmente, assumido pelo bispo diocesano e pelo responsável pela pastoral juvenil. Ainda assim, até que ponto a vontade dos religiosos será suficiente para cativar quem se revela pouco receptivo aos valores da solidariedade e da família? Até que ponto conseguirá a Igreja acolher estes cidadãos de um mundo novo, quais filhos pródigos, mas tão cheios de contradições?
1 comentário:
Os excelentes textos neste blog relativos ao dia diocesano são, em si mesmos, uma resposta actual às indagações que fecham a reportagem.
É saudável abrir estes eventos a uma análise construtiva, atenta, sem dramatismos, mas também sem receio de apontar eventuais falhas.
Excelente presença da banda J
que consegue aproximar quem já partilha a fé.
Para quando o álbum no iTunes?:)
É essencial a realização de debates, bem como a mudança que deles pode advir.
Luís Monteiro
http://rascunhosvirtuais.blogspot.com
Enviar um comentário