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domingo, fevereiro 25, 2007

Mensagem do Santo Padre Bento XVI 2007



Mensagem do Santo Padre Bento XVI 2007
aos jovens de todo o mundo por ocasião da
XXII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE 2007


“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,34)

Caros jovens:
Por ocasião da XXII Jornada Mundial da Juventude, que será celebrada nas dioceses no próximo Domingo de Ramos, gostava de propor para vossa meditação as palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (cf. Jo 13,34).

É possível amar?

Toda a pessoa sente o desejo de amar e de ser amado. No entanto, como é difícil amar, quantos erros e fracassos acontecem no amor! Há mesmo quem chegue a duvidar se o amor é possível. As carências afectivas ou as desilusões sentimentais podem fazer-nos pensar que amar é uma utopia, um sonho inatingível. Temos, então, que resignar-nos? Não! O amor é possível. A finalidade desta minha mensagem é contribuir no reavivar em cada um de vós, que sois o futuro e a esperança da humanidade, a fé no amor verdadeiro, fiel e forte; um amor que traz paz e alegria; um amor que une as pessoas, fazendo-as sentir-se livres no respeito mútuo. Permiti-me que agora vos apresente, em três momentos, um itinerário para a “descoberta” do amor.

Deus, fonte do amor

O primeiro momento faz referência à única fonte do amor verdadeiro, que é Deus. São João sublinha-o bem quando afirma que “Deus é amor” (1 Jo 4,8.16); isso quer dizer não só que Deus nos ama, mas que o mesmo ser de Deus é amor. Estamos diante da revelação mais esplendorosa da fonte do amor que é o mistério trinitário: em Deus, uno e trino, há uma eterna comunicação de amor entre as pessoas do Pai e do Filho, e este amor não é uma energia ou um sentimento, mas uma pessoa: o Espírito Santo.

A Cruz de Cristo revela plenamente o amor de Deus

Como se nos manifesta Deus-Amor? Estamos no segundo momento do nosso itinerário. Mesmo que os sinais do amor divino são já claros na criação, a revelação plena do mistério íntimo de Deus ocorreu na Encarnação, quando o próprio Deus se fez homem. Em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, conhecemos o amor em todo o seu alcance. De facto, “a verdadeira originalidade do Novo Testamento – escrevi na Encíclica Deus caritas est – não consiste em ideias novas, mas na própria figura de Cristo, que da carne e sangue aos conceitos: um realismo incrível” (n. 12). A manifestação do amor divino é total e perfeita na Cruz, como afirma são Paulo: “A prova de que Deus nos ama é que Cristo, sendo nós ainda pecadores, morreu por nós” (Rm 5,8). Portanto, cada um de nós pode dizer sem erro: “Cristo amou-me e entregou-se por mim” (cf. Ef 5,2). Remida pelo seu sangre, nenhuma vida humana é inútil ou de pouco valor, porque todos somos amados pessoalmente por Ele com um amor apaixonado e fiel, com um amor sem limites. A Cruz, loucura para o mundo, escândalo para muitos crentes, é, pelo contrário, “sabedoria de Deus” para os que se deixam tocar no mais profundo do próprio ser, “pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a debilidade de Deus é mais forte do que os homens” (1 Co 1,24-25). Mais ainda, no Crucificado, que depois da ressurreição leva para sempre as marcas da própria paixão, manifestam-se as “falsificações” e mentiras sobre Deus que há por trás da violência, da vingança e da exclusão. Cristo é o Cordeiro de Deus, que carrega com o pecado do mundo e extirpa o ódio do coração do homem. Esta é a sua verdadeira “revolução”: o amor.

Amar o próximo como Cristo nos ama

Eis-nos no terceiro momento da nossa reflexão. Na Cruz, Cristo grita: “Tenho sede” (Jo 19,28), revelando assim uma sede ardente de amar e de ser amado por todos nós. Apenas quando percebemos a profundidade e a intensidade deste mistério, é que damos conta da necessidade e da urgência de que O amemos “como” Ele nos amou. Isto implica também o compromisso, se for necessário, de dar a própria vida pelos irmãos, apoiados pelo amor que Ele nos tem. Já no Antigo Testamento Deus disse: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18), mas a novidade de Cristo consiste no facto de que amar como Ele nos amou significa amar a todos, sem distinção, inclusive os inimigos, “até ao fim” (cf. Jo 13,1).

Testemunhas do amor de Cristo

Gostava agora de me deter em três âmbitos da vida quotidiana nos quais vós, caros jovens, sois chamados de modo particular a manifestar o amor de Deus. O primeiro é a Igreja, que é a nossa família espiritual, composta por todos os discípulos de Cristo. Sendo testemunhas das suas palavras – “Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35) –, alimentai com vosso entusiasmo e vossa caridade as actividades das paróquias, das comunidades, dos movimentos eclesiais e dos grupos juvenis de que fazeis parte. Sede solícitos em procurar o bem dos outros, fiéis aos compromissos adquiridos. Não duvideis em renunciar com alegria a alguns dos vossos divertimentos, aceitai de bom grado os sacrifícios necessários, dai testemunho do vosso amor fiel a Cristo anunciando o seu Evangelho especialmente entre os vossos colegas

Preparar-se para o futuro

O segundo âmbito onde sois chamados a exprimir o amor e a crescer nele é a vossa preparação para o futuro que vos espera. Se sois noivos, Deus tem um projecto de amor sobre o vosso futuro matrimónio e a vossa família, e é essencial que o descubrais com a ajuda da Igreja, livres do preconceito tão difundido segundo o qual o cristianismo, com seus preceitos e proibições, põe obstáculos à alegria do amor e, em particular, impede de desfrutar plenamente essa felicidade que o homem e a mulher procuram no seu amor recíproco. O amor do homem e da mulher dá origem à família humana e o casal por eles formado tem o seu fundamento no plano original de Deus (cf. Gn 2,18-25). Aprender a amar-se como casal é um caminho maravilhoso que, no entanto, requer uma aprendizagem laboriosa. O período do noivado, fundamental para formar um casal, é um tempo de espera e de preparação, que há-de de ser vivido na castidade dos gestos e das palavras. Isto permite amadurecer no amor, no cuidado e na atenção ao outro; ajuda a exercitar o auto-domínio, a desenvolver o respeito pelo outro, características do verdadeiro amor que não procura, em primeiro lugar, a própria satisfação nem o próprio bem-estar. Na oração comum, pedi ao Senhor que cuide e faça crescer o vosso amor e que o purifique de todo egoísmo. Não hesiteis em responder generosamente ao chamamento do Senhor, porque o matrimónio cristão é uma verdadeira e autêntica vocação na Igreja. Igualmente, queridos e queridas jovens, se Deus vos chama a segui-l’O no caminho do sacerdócio ministerial ou da vida consagrada, estai preparados para dizer “sim”. Vosso exemplo será um estímulo para muitos de vossos colegas, que estão à procura da verdadeira felicidade.

Crescer cada dia no amor

O terceiro âmbito do compromisso que implica o amor é o da vida quotidiana nos seus vários aspectos. Refiro-me sobretudo à família, ao estudo, ao trabalho e ao tempo livre. Caros jovens, cultivai vossos talentos não apenas para conquistar uma posição social, mas também para ajudar os outros “a crescer”. Desenvolvei vossas capacidades, não apenas para ser mais “competitivos” e “produtivos”, mas para ser “testemunhas da caridade”. Uni à formação profissional o esforço por adquirir conhecimentos religiosos, úteis para poder desempenhar de modo responsável a vossa missão. De modo particular, convido-vos a aprofundar a doutrina social da Igreja, para que os seus princípios inspirem e iluminem o vosso agir no mundo. Que o Espírito Santo vos faça criativos na caridade, perseverantes nos compromissos que assumis e audazes nas vossas iniciativas, contribuindo assim para a edificação da “civilização do amor”. O horizonte do amor é realmente ilimitado: é todo o mundo!



“Ousar amar” seguindo o exemplo dos santos

Queridos jovens, quero convidar-vos a “ousar amar”, a não desejar outra coisa mais do que um amor forte e belo, capaz de fazer de toda a vossa vida uma gozosa realização do dom de vós mesmos a Deus e aos irmãos, imitando Aquele que, através do amor, venceu para sempre o ódio e a morte (cf. Ap 5,13). O amor é a única força capaz de transformar o coração do homem e de toda a humanidade, tornando frutuosas as relações entre homens e mulheres, entre ricos e pobres, entre culturas e civilizações. Disto dá testemunho a vida dos Santos, verdadeiros amigos de Deus, que são a foz e o reflexo deste amor originário. Esforçai-vos em conhecê-los melhor, encomendai-vos à sua intercessão, procurai viver como eles. Limito-me a citar-vos a Madre Teresa que, para corresponder com prontidão ao grito de Cristo “Tenho sede”, grito que a comoveu profundamente, começou a recolher os moribundos das ruas de Calcutá, na Índia. Desde esse momento, o único desejo da sua vida foi saciar a sede de amor de Jesus, não com palavras, mas com actos concretos, reconhecendo o seu rosto desfigurado, sedento de amor, no rosto dos mais pobres entre os pobres. A Beata Teresa pôs em prática o preceito do Senhor: “Cada vez que o fizestes a um destes meus irmãos mais humildes, a mim o fizestes” (Mt 25,40). E a mensagem desta humilde testemunha do amor difundiu-se por todo o mundo.

O segredo do amor

Cada um de nós, queridos amigos, pode chegar a este grau de amor, mas somente com a ajuda indispensável da graça divina. Só a ajuda do Senhor nos permite superar o desalento diante da enorme tarefa por realizar e nos infunde o valor para fazer o que é humanamente impensável. A grande escola do amor é, sobretudo, a Eucaristia. Quando se participa regularmente e com devoção na Santa Missa, quando se passam na companhia de Jesus eucarístico longos momentos de adoração, é mais fácil compreender o comprimento, a largura, a altitude e a profundidade do seu amor, que supera todo conhecimento (cf. Ef 3,17-18). Ainda mais, a partilha do Pão eucarístico com os irmãos da comunidade eclesial impele-nos a converter “com prontidão” o amor de Cristo num serviço generoso aos irmãos, como o fez a Virgem com Isabel.

A caminho do encontro de Sydney

A este respeito, resulta iluminadora a exortação do apóstolo João: “Meus filhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas em verdade e com actos. Nisto conheceremos que somos da verdade” (1 Jo 3,18-19). Queridos jovens, com este espírito convido-vos a viver a próxima Jornada Mundial da Juventude junto com os vossos bispos nas próprias dioceses. Esta representará uma etapa importante para o encontro de Sydney, cujo tema será: “Recebereis a força do Espírito Santo, que virá sobre vós e sereis minhas testemunhas”(cf. Act 1,8). Maria, Mãe de Cristo e da Igreja, vos ajude a fazer ressoar em todo o lugar o grito que transformou o mundo: “Deus é amor!”. Acompanho-vos com a oração e abençoo-vos de todo coração.

Vaticano, 27 de Janeiro de 2007
Bento XVI

(tradução DNPJ – Pe Pablo Lima)

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